As zoonoses, doenças infecciosas transmitidas dos animais para os seres humanos, são uma pauta de saúde pública. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), existem mais de 200 tipos delas.
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Além disso, a Organização Mundial para a Saúde Animal (OIE) indica que mais de 60% das doenças infecciosas humanas são zoonoses. “A questão de saúde pública deve-se ao fato de serem, muitas vezes, negligenciadas por falta de entendimento da população, o que gera graves efeitos sobre a saúde humana e também sobre a economia”, afirma a médica-veterinária Vanessa Zimbres.
A profissional, que é especializada em Medicina Felina e proprietária da clínica exclusiva Gato é Gente Boa, em Itu-SP, explica que a principal forma de transmissão se dá pelo contato com fluidos corporais de animais infectados, como: saliva, fezes, urina, sangue; por mordidas ou arranhões; alimentos contaminados, como carne, ovos, leite, água; solo contaminado por fezes de animais infectados; e, ainda, por vetores como mosquitos, carrapatos e pulgas, também contaminados.
A mais comum entre os gatos
As principais zoonoses que acometem os animais, sejam cães, gatos e outras espécies, são: raiva; infecções intestinais, como giardíase; sarna; micoses e parasitas intestinais. Nos gatos, a mais comum é a toxoplasmose, doença causada por um protozoário adquirido quando há ingestão de pequenos animais ou alimentos contaminados pelo parasita. “Porém, a transmissão raramente é feita diretamente do gato para o homem”, alerta Vanessa.
A veterinária complementa ainda que, se o gato se contaminar, o parasita pode ser eliminado nas fezes por até 2 semanas em um único período da vida e levar de 1 a 5 dias nas fezes do gato para causar uma infecção. “Para uma pessoa contrair a doença, ela deve ingerir algo que esteja contaminado pelas fezes. Nem o pelo do gato e nem a saliva são capazes de transmitir toxoplasmose”, explica.
Prevenção e controle
Para evitar que uma zoonose agrave a saúde pública, é possível que os tutores realizem ações de controle e prevenção para cada perfil de doença. Vanessa lista as principais ações:
– Toxoplasmose: não deixar o gato ingerir presas ou carne crua que possam estar contaminadas;
– Bartonelose (doença da arranhadura do gato), verminoses e sarna: uso de vermífugos e antiparasitários externos contra pulgas, carrapatos e ácaros;
– Micoses ou outras doenças fúngicas mais graves: manter o gato dentro de casa, não deixando-o ter acesso a locais com acúmulo de sujeira e matéria orgânica;
– Raiva: prevenção eficaz por meio da vacinação e revacinação anual.
Exceto a raiva, não há vacinas para as outras zoonoses em gatos. Porém, produtos profiláticos, como antipulgas e vermífugos, são facilmente encontrados. “Uma boa nutrição e acompanhamento veterinário para manter o animal saudável, além de condutas básicas de higiene, são as melhores maneiras de prevenir e controlar as zoonoses. Nesse sentido, a população em geral e, principalmente, os tutores, são fundamentais”, completa.
Zoonose e a Covid-19
É preciso cuidado com as desinformações que eventualmente são veiculadas. Recentemente, circulou um texto em diversos veículos de comunicação, onde há o relato de um caso, fora do Brasil, em que um gato teria transmitido Covid-19 para uma pessoa. O desconhecimento pode dar abertura para o abandono e até mesmo maus-tratos, considerado crime por Lei.
Embora seja uma zoonose, as informações sobre a Covid-19 devem ser transmitidas com cautela. “Ainda não há evidências científicas concretas, nem estudos suficientes, para afirmar que os gatos podem transmitir o SARS-CoV-2 para humanos. Um estudo científico bem controlado leva em consideração vários fatores”, alerta Vanessa.
“Os gatos podem contrair o vírus e adoecerem, mas a transmissão para humanos é rara e estudos experimentais mostram que os felinos infectados não liberam muitos vírus, não tendo, portanto, papel significativo na disseminação da Covid-19. As pessoas são muito mais propensas a transmitir o vírus aos gatos do que o contrário”, complementa.
Para evitar qualquer tipo de contaminação, a veterinária orienta que as pessoas doentes evitem contato com os pets, da mesma forma que evitam com outras pessoas. “Caso não seja possível, o animal deve ser cuidado e jamais abandonado”, finaliza.