De carnívoro competidor a melhor amigo: ciência explica relação entre homens, lobos e cães

De carnívoro competidor a melhor amigo: ciência explica relação entre homens, lobos e cães
De carnívoro competidor a melhor amigo: ciência explica relação entre homens, lobos e cães (Foto: M. Maggs/Pixabay)

Você gosta de dar um pedacinho de sua comida para seu cão? De acordo com os cientistas, foi desta maneira que os humanos domesticaram os lobos na Era do Gelo.

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Historicamente, humanos e lobos eram ambos caçadores e competiam por grandes presas, especialmente durante os meses mais rigorosos de inverno. Mas, embora as duas espécies fossem capazes de matar uma à outra, os humanos domesticaram lobos, cujos descendentes acabaram se tornando nossos cães de hoje em dia.

Pesquisadores da Finnish Food Authority (Autoridade Alimentar Finlandesa), um departamento do ministério da agricultura, levantaram a hipótese de que, ao alimentar os lobos com restos de carne, os caçadores da Era do Gelo podem ter desempenhado um papel na domesticação inicial dos cães. E eles dizem que podem explicar pela primeira vez por que os humanos tolerariam a companhia de um predador competitivo durante este período.

Uma relação “mutuamente benéfica”

Acredita-se que os cães modernos tenham sido domesticados de lobos, mas exatamente quando não está claro. Em 2017, um estudo publicado na revista Nature Communications descobriu que os cães modernos foram domesticados a partir de uma única população de lobos de 20.000 a 40.000 anos atrás.

Ainda assim, a equipe de pesquisadores da FFA queria saber como essa relação “mutuamente benéfica” surgiu, visto que humanos e lobos teriam competido por comida nos meses de inverno.

“Humanos mataram ursos-das-cavernas e felinos dente-de-sabre para remover outros carnívoros”, disse Maria Lahtinen, cientista sênior da FFA, à CNN. “As pessoas não foram capazes de explicar por que os humanos tolerariam carnívoros competitivos em suas áreas de vida”, explicou ela.

Os pesquisadores estimaram quanta energia teria sobrado pelos humanos da carne de espécies que eles caçavam para se alimentar, como cavalos, alces e veados, entre 14.000 e 29.000 anos atrás. Seus cálculos indicavam que durante os meses de inverno na Europa e na Ásia, os caçadores, que não estavam totalmente adaptados a uma dieta carnívora, tinham um excedente de carne magra, que eles poderiam compartilhar com os lobos.

“Durante o final do período Paleolítico, o clima era tal que a maior parte da Europa e da Ásia tinha invernos”, disse Lahtinen. “Eram áreas de clima frio, o que significa que sempre, todos os anos, tinham condições em que os humanos tinham acesso às proteínas”, explicou ela. “Os humanos são naturalmente adaptados à dieta carnívora, mas só podemos consumir cerca de 20% da proteína em nossa dieta”, disse ela.

Esse excesso de carne poderia ter sido facilmente compartilhado com os lobos, diz a equipe, o que significa um passo na direção de um relacionamento mutuamente benéfico. “Após esse período inicial, os cães incipientes teriam se tornado dóceis, sendo utilizados de várias maneiras, como companheiros de caça e guardas, além de passar por muitas mudanças evolutivas semelhantes às dos humanos”, escreveram os autores no artigo, publicado quinta-feira na revista Scientific Reports.

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