Alguns coelhos andam sobre as patas dianteiras; a ciência encontra a razão

Alguns coelhos andam sobre as patas dianteiras; a ciência encontra a razão
Alguns coelhos andam sobre as patas dianteiras; a ciência encontra a razão (Foto: Gavin Allanwood/Unsplash)

Um gene defeituoso pode transformar coelhos em malabaristas profissionais que só andam sobre as patas dianteiras, de acordo com um novo estudo.

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Para se mover rapidamente, uma raça de coelho domesticado chamado Sauteur d’Alfort ergue suas patas traseiras para o alto e caminha com as patas dianteiras. Esse hábito estranho pode ser o resultado de um gene ligado ao movimento dos membros, relatam os pesquisadores em um estudo publicado na PLOS Genetics.

Os coelhos Sauteur d’Alfort não são o único animal a adotar uma caminhada estranha se houver uma mutação nesse gene, conhecido como RORB. Camundongos com uma mutação no gene também fazem parada de mãos se começarem a correr, diz Stephanie Koch, neurocientista da University College London que não esteve envolvida no trabalho com coelhos. E mesmo enquanto caminham, os ratos sobem as patas traseiras para gingar para a frente, quase como um pato.

“Passei quatro anos olhando para esses ratos fazendo pequenas paradas de mão, e agora vejo um coelho fazer a mesma parada de mão. É incrível”, disse Koch, que liderou um estudo de 2017 publicado na Neuron que explorou o mecanismo por trás da “marcha de pato” em camundongos.

De acordo com Leif Andersson, geneticista molecular da Universidade de Uppsala, na Suécia, entender por que os coelhos se movem de maneira tão estranha pode ajudar os pesquisadores a aprender mais sobre como funciona a medula espinhal. “O estudo está contribuindo para o nosso conhecimento básico sobre uma função muito importante em humanos e todos os animais: como somos capazes de nos mover.”

No estudo do coelho, Andersson e colegas criaram coelhos machos Sauteur d’Alfort sem lúpulo com coelhas brancas da Nova Zelândia que sabem pular. A equipe então digitalizou os projetos genéticos da prole que não conseguia pular e procurou mutações que não apareceram na prole que poderia.

Uma mutação no gene RORB apareceu como um provável candidato para as acrobacias de mão dos coelhos. Essa mudança cria versões defeituosas das instruções genéticas que as células usam para produzir proteínas, descobriram os pesquisadores. Como resultado, parece haver menos proteína RORB em células nervosas especializadas em coelhos que têm a mutação em comparação com coelhos que não têm.

Essas células nervosas da medula espinhal, chamadas interneurônios, ajudam a coordenar os lados esquerdo e direito do corpo e são cruciais para uma marcha normal, explicou Andersson. Sem a proteína RORB nos interneurônios, os coelhos podem não ter a capacidade de coordenar o que seus membros posteriores estão fazendo, o que restringe sua capacidade de pular.

Enquanto se movem lentamente de um lugar para outro, os coelhos com o gene defeituoso podem andar normalmente, alternando as patas dianteiras e traseiras. Mas, os coelhos que pulam usam essa técnica para se mover rápido ou viajar por longas distâncias. E o salto requer patas traseiras sincronizadas para saltar ao mesmo tempo, ressaltou o co-autor do estudo Miguel Carneiro, geneticista molecular da Universidade do Porto, em Portugal.

Sem essa coordenação, alguns coelhos que não conseguem pular podem fazer uma parada de mãos mais drástica do que outros. Mas todos os coelhos com uma mutação RORB usam as patas dianteiras para se mover rapidamente, explicou Carneiro.

Descobrir como esse defeito genético afeta o corpo de forma mais ampla pode ser importante para compreender a maneira como todos os animais se movem, assim como as pessoas não podem correr sem movimentos harmonizados dos quatro membros.

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